O capitão saiu para o almoço e os marinheiros tomaram conta do navio - Charles Bukowski

Quatro anos após sua morte, foi publicado nos EUA O capitão saiu para o almoço e os marinheiros tomaram conta do navio, do escritor Charles Bukowski. Neste livro, acompanhamos os escritos do diário do Velho Buk, que já se despedia da vida, com textos vigorosos englobando a fase final de sua vida, com registros que cobrem os anos de 1991 a 1993, um ano antes de morrer de pneumonia, decorrente de um tratamento para leucemia...


Os trechos do livro possuem uma carga dramática ainda mais forte do que em seus livros anteriores. É algo mais íntimo, de caráter pessoal, como se fosse uma espécie de testamento filosófico-literário do autor para os seus leitores... Há aqui um Bukowski ainda mais sincero, cru, direto em suas perspectivas. Tais relatos foram selecionados pelo próprio autor para compor a obra, dias antes de deixar o mundo... ou como ele diria, dias antes da Morte acertar o seu traseiro...

"Sei que vou morrer logo e isso me parece estranho. Sou egoísta, gostaria d continuar a escrever mais palavras. Isso me dá um brilho, me joga no ar dourado. Mas, na verdade, por quanto tempo posso continuar ainda? Não é certo continuar. Diabos, de qualquer forma, a morte é a gasolina no tanque. Nós precisamos dela. Eu preciso. Você precisa. Nós emporcalhamos o lugar se demorarmos demais."

Bukowski relata acontecimentos divertidos, por vezes patéticos, que lhe ocorreram já na fase final da vida... encontros odiosos com fãs mais 'ousados', que mentiam descaradamente para tentar uma entrevista ou encontro com o autor. Falava sobre as personalidades que observava no hipódromo, seres decadentes como ele, dores que acometem pessoas de 70 e poucos anos no geral, a maneira como parecia brincar com a morte e o período que antecedia sua chegada, naquela expectativa de quem sabe que o fim da linha está próximo, mas sem perder o [bom]humor...

"Uma coisa que a morte não suporta é que você ria dela."

O livro foi publicado aqui no Brasil pela L&PM Pocket, e trás belíssimas ilustrações de Robert Crumb, artista já conhecido pelos fãs de Bukowski, devido ao seu trabalho como ilustrador em outras obras dele. A filosofia bukowskiana aqui se desvela ainda mais fatalista, com toques de ironia característicos de sua produção poético-literária. 

"Às vezes, me sinto como se estivéssemos todos presos num filme. Sabemos nossas falas, onde caminhar, como atuar, só que não há uma câmera. No entanto, não conseguimos sair do filme. E é um filme ruim."

O capitão Bukowski saiu para o almoço com a Morte em 9 de março de 1994. É triste pensar num mundo em que sua existência se faz ausente. Mas me conformo em poder ter tido a chance de conhecer sua imortalidade através da literatura. E tenho 'esperanças' que um dia eu ainda tomo um porre com esse Velho Safado do 'outro lado', na proa de algum navio... 


14 comentários:

  1. Sabe que eu nunca li nada do autor? Depois da sua resenha fiquei curiosa para conferir. Não sei se faz muito meu tipo de leitura, mas vale a pena a tentativa, é sempre bom sair da zona de conforto, não é mesmo? rs Achei essa edição muito bonita, comecei a tomar gosto por versão pocket.
    beijos
    www.apenasumvicio.com

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  2. Oi Maria, tudo bem? Vou passar a vergonha de dizer que nunca li nada do autor, mas Bukowski é sempre muito bem comentado. Achei a premissa interessa, principalmente pelos relatos dos fãs, não sei se começaria a ler os livros dele por esse, mas dica anotada!

    Bjs, Mi

    O que tem na nossa estante

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  3. Oi.
    O bom da literatura é isso, eterniza as pessoas e suas trajetórias.
    Ao ler sua resenha senti que preciso estudar a vida e as obras do autor.
    Pretendo fazer isso em breve.
    Beijos.

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  4. Oi, Maria!
    Acho que nunca li nada do autor.. pelo menos não que eu lembre.
    Que bom que você curtiu a leitura, mas infelizmente biografia não é algo que combina muito comigo.
    Beijos
    Balaio de Babados

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  5. Oi Maria!
    Primeiro preciso dizer que adoro o seu blog e as suas resenhas. Sempre são muito bem feitas e de livros que me interessam bastante.
    Agora sobre o post... Eu ainda não li nenhum livro nem texto do Bukowski, mas tenho bastante interesse em algumas obras dele, principalmente por causa da escrita dele. Esse deve ser muito interessante para conhecer um pouco mais o autor, já no fim da sua vida!
    Adorei a sua resenha. Parabéns!
    Bjss

    http://umolhardeestrangeiro.blogspot.com.br/

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  6. Olá!
    Meu irmão gosta muito do Bukowski, mas eu mesma nunca li nada dele.
    Acho que esse livro deve ser muito intenso, não só pelo tema e o tipo autobiográfico, mas pq em tese ele n sabia quando ia morrer (mas nós sabemos quando morreu).
    Já tenho alguns livros dele na lista para ler (e espero não querer da na cara de ninguém ao final da leitura). Em breve já devo ter conhecido a escrita e as histórias dele xD

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  7. Oi! Gosto muito de Bukowski, porque acho que seus textos são extremamente crús e verdadeiros. Eles conseguem transmitir sentimentos que temos todos os dias, e que muitas vezes fingimos e suprimimos ao longo da vida. Ele disserta sobre os ódios e amores individuais, os desejos que guardamos. Chega a ser cruel pensar que alguém que viveu de maneira tão verdadeira seja tão pouco conhecido.


    Bjoxx ~ www.stalker-literaria.com

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  8. já ouvi falar de Bukowski mas nunca li nada sobre ele, achei bem interessante e bem profundo os trechos que você separou do livro. Ele devia ser um gênio em vida. Uma pena muitas pessoas como eu conhecer tão pouco sobre ele.

    Sua resenha ficou ótima!

    Beijos

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  9. Olá!
    Ainda não tive oportunidade de conhecer nenhum trabalho do Bukowski. Me parece uma leitura bem intensa e reflexiva. Mesmo aparentando ser uma narrativa que não faz muito meu estilo de leitura por ter teor autobiográfico, ainda sim, quero conhecer algo do autor.
    Beijos!

    Camila de Moraes

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  10. Olá, tudo bem?

    Já ouvi falar muito de Bukowski, porém nunca li nada por não me interessar. Essa obra tem uma premissa interessante, e que bom que gostou. Não sei se para começar, essa obra seria interessante, mas vou anotar a dica. Quem sabe eu dê uma chance.

    Beijos

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  11. Olá Maria, tudo bem?
    Eu já li uma obra do Bukowski por recomendação de um amigo e eu adorei a profundidade de sua narrativa e ele retratou o dia a dia das pessoas, sabe? Eu não sabia que tínhamos um livro que retratava o final da vida de Buk e isso me deixou contente, curiosa e triste. Acho que não teria como ser diferente, o livro é, sem dúvidas, extremamente dramático e vou super anotar a dica. Adorei ter lido suas impressões :)
    Beijos,
    https://www.umoceanodehistorias.com/

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  12. Oi.

    Acho que a primeira vez que ouvi falar desse autor foi no livro "Perdida" da Carina Rissi. Não me lembro de já ter ouvido falar sobre o autor antes, talvez na escola, mas não me recordo mesmo. Enfim... Depois que conheci conheço mais sobre o autor, tive vontade de ler alguma de suas obras, as mais comentadas, mas ainda não tive essa oportunidade. Espero um dia poder ler algo dele e ver por mim mesma o que o o torna tão famoso.

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  13. Oi Maria Valéria, como está?
    Já ouvi falar de muitos livros do Charles Bukowski, mas juro que esse eu vim a conhecer no teu blog, que permita-me dizer, ficou ainda mais bonito, se isso lá era possível. Como sempre, os teus textos são excelentes. O livro, com certeza, é um que eu gostaria de ler.
    Abraços e beijos da Lady Trotsky...
    http://www.galaxiadeideias.com/
    http://osvampirosportenhos.blogspot.com

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  14. Oi, tudo bem?
    Esse livro não conhecia, mas acho que já dei espiada na capa, só não peguei para ver o que era por não me chamar atenção. E agora lendo, não faz mesmo meu gênero de leitura. Eu já fiz um trabalho sobre os outros trabalhos do autor Charles Bukowski há muuuito tempo atrás e ele tem textos incríveis! Beijos

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De Bukowski a Dostoievski. Ana Cristina César a Lilian Farias. Deleite-se com a poesia de Florbela Espanca e o erotismo de Anaïs Nin...
Aforismos, devaneios, quotes dispersos e impressões literárias...um baú de antiguidades e pós-modernismo. O obscuro, complexo, distópico, inverso... O horror, o amor, a loucura e o veneno de uma alma em busca de liberdade...

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