Buk Sobre Gatos

"Na minha próxima vida quero ser um gato. Dormir vinte horas por dia e esperar que me alimentem. Só ficar atirado, lambendo a minha bunda. Os humanos são infelizes e raivosos e bitolados demais."

Sobre Gatos é uma publicação da L&PM Editores que compila alguns dos escritos da obra de Charles Bukowski sobre os felinos, uma das paixões do escritor alemão naturalizado americano. Bukowski é conhecido por sua crueza em abordar temas do cotidiano, mesclados com agruras e decadência existencial, muitas vezes retratando a si mesmo em seus personagens, que personificam vagabundos, prostitutas e bêbados, pessoas desesperançadas e alheias, entorpecidas pela dureza do cotidiano. Nesses contos e poemas não seria diferente, mas aqui conhecemos uma faceta do autor que beira o sensível. Ele era um amante dos bichanos peludos...

A crueza de sua escrita ainda está aqui, mas suavizada por falar nos gatos que passaram por sua vida, o carinho e cuidado que dispendia quando algum deles se acidentava ou ficava doente, e até mesmo nos momentos de solidão em que um felino lhe fazia companhia, ao ponto de mijar em seus lençóis ou se enrodilhar aos seus pés enquanto escrevia. 

"As fábricas, as cadeias, os dias e as noites de bebedeira, os hospitais me enfraqueceram e me abalaram como um rato na boca de um gato malandro: a vida."

A obra possui algumas fotografias de Buk segurando seus gatos. Na velhice, seu afeto pelos animais se intensificou e o que sentia por eles ia além do carinho, era uma espécie de veneração pela magnitude que o porte de um gato possui. Na visão de Bukowski - e acredito que na visão daqueles que amam gatos [como eu] - são animais impetuosos, de olhar inquietante e místico, e ao mesmo tempo parecem não dar bola para os problemas que existem na vida. 

"e era um bom e velho
garotão
e ele morreu
como pessoas morrem
como elefantes morrem
como ratos morrem
como flores morrem
como água evapora e
o vento para de soprar."

Sobre Gatos é uma ode aos bichanos. Um afago do Velho Buk nos amantes de gatos, em seus leitores, um ronronar delicado em meio à 'sujeira' de seus escritos.