Geografia dos Mitos Brasileiros, por Luís da Câmara Cascudo

Nosso país é um vasto campo cultural decorrente da mistura de etnias que ocorreram aqui desde os tempos do 'descobrimento' pelos portugueses. Ao longo de mais de quinhentos anos, o  imaginário popular indígena mesclou-se ao do negro escravizado que veio da longínqua terra africana, e agregou aos saberes/dizeres antigos a cultura europeia, não só a portuguesa, mas também da Holanda, França, Espanha e afins... 

Na obra Geografia dos Mitos Brasileiros, escrita pelo historiador, antropólogo e advogado Luís da Câmara Cascudo e publicada pela Global Editora, somos apresentados a uma verdadeira enciclopédia folclorista das lendas que percorrem os séculos e mesmo na contemporaneidade, não se perderam do imaginário popular por completo... A tarefa de Cascudo foi justamente compilar toda informação que obteve através de vasta pesquisa, percorrendo o Brasil de norte a sul a fim de relatar as histórias que ouviu...

Cascudo cita obras e autores ao longo do livro, fazendo comparações e analogias, identificando seres místicos que possuem nomes diferentes mas igual semelhança na aparência. Mapeia em cada estado brasileiro os costumes, mitos e origem de suas heranças culturais. Faz ainda uma subdivisão dos mitos indígenas e europeus. As passagens do livro tem gosto de erudito e popular. De lobisomens a curupiras, Iaras e Saci-pererês, o leitor faz uma interessante viagem rumo aos confins do país descobrindo estórias que povoaram as rodas em noite de lua de nossa infância no interior.

Em suma, Geografia dos mitos brasileiros é uma obra rica em informação, com uma escrita fluída e informativa que não entedia o leitor. É uma verdadeira homenagem à cultura nacional e suas raízes. Indispensável de se ter no acervo...

"Como, preparando minha "Etnografia Tradicional do Brasil", ia sendo compelido a cruzar com todos esses bichos e seres espantosos, senti-me na disposição de prendê-los num campo, bem pobre e curto, mas enfim um campinho onde poderão ser vistos em maior numero que no meio das matas, dos capoeirões e das várzeas brasileiras, dos rios, dos ares e das montanhas da Pátria.
Era uma tarefa difícil, áspera e longa, mas devia hacerla, mal, pero hacerla..."
Natal, XII, 1940. Luís da Câmara Cascudo.