O retrato - Nicolai Gogol

E hoje eu trago para vocês a resenha de um livrinho da L&PM Editores que tenho na estante, da coleção 64 páginas. Como ontem foi o aniversário do autor Nicolai Gogol, achei relevante trazer as impressões que tive com uma de suas obras através desta resenha. A obra escolhida foi O retrato.



Dividido em duas partes, o conto nos fala sobre um pintor de quadros chamado Tchartkov, que na busca de inspiração para seus quadros, se depara durante um passeio com um quadro enigmático, meio esquecido entre tantos outros, numa galeria de arte. O que chamou a atenção do jovem pintor foi a expressão do homem asiático retratado, de olhos aterradores e profundos. Antes um artista fracassado e desconhecido, Tchartkov, após adquirir o retrato, passa por uma maré de sorte financeira e ganha popularidade, a medida que vai ficando mais cheio de si, orgulhoso, devido a influência que o retrato exerce sobre ele. Com isso, ele perde a sanidade. 
"Tchartkov aproximou-se mais uma vez do retrato para examinar aqueles olhos extraordinários e sentiu, não sem algum terror, que eles o observavam. Não era mais uma cópia da natureza, antes a vida perturbadora com a qual poderia se animar o rosto de um cadáver recém-saído de um túmulo. Seria um efeito da claridade lunar, esta mensageira do delírio que imprime em tudo um aspecto irreal? Não sei, mas ele sentiu um mal-estar súbito por se encontrar sozinho naquela peça. Afastou-se lentamente do retrato, virou-se, fez um esforço para não olhá-lo mais. No entanto, apesar de seu desejo, seu olho, incapaz de desviar-se, retornava sem descanso àquela direção."
Tchartkov tem pesadelos na noite em que leva o quadro para casa. A natureza dos sonhos é tão aterradora que mais parece real; ele vê a figura retratada saindo da moldura. Tendo encontrado ouro escondido sob a moldura, ele logo se muda do pequeno quarto que morava e passa a exibir um estilo de vida espalhafatoso e cheio de gastos desnecessários, esbanjando fortuna e trabalhando pouco, sem economizar. Os trabalhos que vão aparecendo para ele fazer o deixam decepcionado, pois muitos modelos não querem que ele os retrate de forma fiel e sim, eliminando possíveis 'imperfeições' do modelo, tornando-se no fim, apenas 'mais do mesmo', retratos sem originalidade e com a mesma expressão vazia...

Mas seus clientes admiravam sua obra, o elogiavam como artista e isso ia envaidecendo ainda mais o ego do pintor. Com o passar do tempo, sentimentos conflituosos pairavam na cabeça do artista, e ele percebeu então que sua transformação devia-se ao momento em que adquiriu aquele retrato cujos olhos lhe encaravam ferozmente. Quando a loucura tomou posse de si por completo, ele não resiste a ela...

Na segunda parte do conto, o retrato é objeto de extremo valor e está sendo leiloado. Entre os presentes, alguém chama a atenção para a tela e conta sua história repleta de tragédias na vida de quem o possuiu, inclusive do retratista que fez a obra. é Um livro de tirar o fôlego. A pessoa que narra toda a trajetória do quadro, contando inclusive a quem pertence aquelo rosto demoníaco, é o filho do artista que pintou o quadro. Através de seu relato descobrimos todos os malefícios que a obra causou em quem a possuiu... 


Nicolai Gogol viveu apenas 43 anos, tendo morrido de inanição, causada por uma série de infortúnios em sua vida. Além de romancista, foi também dramaturgo e contista.Sua estreia no mundo literário se deu com o livro Numa fazenda perto de Divanka, uma coletânea de contos de humor. A partir daí, sua carreira alavancou e ele hoje é considerado um dos grandes nomes da literatura clássica universal, ao lado de seus conterrâneos Dostoiévski, Tolstoi e Tchekov. Sua escrita se enquadra no gênero realismo fantástico, onde ele mistura aspectos reais e comuns com acontecimentos irreais, sem esquecer de acrescentar uma pitada de humor, trazendo uma reflexão sobre a vida e a arte em suas obras. Faleceu no ano de 1852, na cidade de Moscou.






3 comentários:

  1. Nossa. Não conhecia o autor, nem a obra. A mistura de realismo com fantástico é uma característica que eu admiro em autores, ainda mais quando isso tem algo a acrescentar na nossa vida. Bela resenha.
    Beijos

    Academia Literária DF

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  2. Ah eu tenho esse livrinho e quem foi que me deu... hahahaha

    Ótima leitura e minha primeira edição de literatura russa!

    Beijos, Cah Valeriano
    http://agarotacosmica.blogspot.com.br/

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  3. Que horrível, não sabia que ele havia morrido de inanição. Eu adoro realismo fantástico, e esse livro é muito legal. Adorei sua resenha, me deixou com vontade de ler de novo.

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