O planeta dos macacos, de Pierre Boulle

Trago para vocês as impressões que tive ao ler O planeta dos macacos, de Pierre Boulle, livro escolhido para a Maratona Literária de Inverno e que foi o primeiro da lista a ser lido. Pois bem, achei a leitura super fluída e interessante. Havia assistido as versões antigas dos filmes quando era pequena mas não lembrava muito bem da história. Enquanto lia, cenas do filme surgiram em pequenos flashbacks em minha mente... Aah... o poder das palavras em trazer memórias perdidas à tona...Bem, voltando à resenha...



Jinn e Phyllis estão de férias, viajando pelo espaço quando de repente encontram um objeto de vidro, e logo percebem que se trata de uma garrafa com um manuscrito dentro. Após resgatarem o objeto perdido na imensidão do universo e examinarem seu conteúdo, é que nós, leitores, passamos a conhecer o relato de Ulysse Mérou, um jornalista que - em companhia de um físico chamado Arthur Levain, um professor chamado Antelle e um chimpanzé, batizado como Hector, que viajaram numa nave cósmica em direção ao sol vermelho Betelgeuse, localizada na constelação de Órion. Esse local se encontrava a 300 anos-luz do planeta Terra e para chegar nele, passaram-se 350 anos terrestres, em que os tripulantes sentiram como se fosse uma viagem de apenas dois anos.

Quando aterrissam, acreditam estar num local habitado, pois encontram casas, florestas, lindas paisagens... Sua atmosfera é bastante similar a da Terra e logo eles encontram uma espécie de cachoeira... Logo percebem que estão sendo observados e se deparam com uma garota nua, que estranha os visitantes, mas tem sua curiosidade aguçada em examiná-los mais de perto. Após alguns contatos iniciais meio que desastrosos, algo terrível acontece e logo os intrusos se veem rodeados de homens que mais se assemelham a animais selvagens em seu comportamento...

"Durante a viagem, em nossas conversas a respeito de eventuais contatos com seres vivos, evocávamos criaturas disformes, monstruosas, com um aspecto físico bem diferente do nosso, mas sempre supúnhamos tacitamente nelas a presença do espírito. No planeta Soror, a realidade parecia completamente ao avesso: estávamos às voltas com habitantes semelhantes a nós do ponto de vista físico, mas que pareciam completamente destituídos de razão. Era de fato esta a significação do olhar que me perturbara em Nova e que encontrei em todos os outros: a falta de reflexão consciente, a ausência de alma..."

Levados para o 'ninho' desses estranhos humanos, acabam sendo perseguidos por inimigos armados que logo se revelam... macacos. Temos outra baixa no grupo de Ulysse e ele é levado como prisioneiro, a humana selvagem [Nova] que iniciou contato com eles é presa perto dele e assim passa-sem várias semanas, sendo examinado por pesquisadores macacos. Surge uma cientista que fica abismada com comportamento o homem, e ela começa a fazer mais estudos com ele, escondendo suas descobertas dos demais cientistas. Ulysse confia na chimpanzé, de nome Zira, e logo percebe que é ela quem pode tirá-lo daquela situação... Com a amizade que surgia, Zira ensina Ulysse o idioma símio, entrega livros para que ele aprenda o máximo que pode, sem avisar ninguém do laboratório, pois há macacos planejando um destino não muito atraente para o pobre Ulysse...

"eu acompanhara a alteração de sua fisionomia e registrara um certo número de detalhes surpreendentes: em primeiro lugar, a crueldade do caçador emboscando sua presa e o prazer febril que esse exercício lhe proporciona; mas, acima de tudo, o caráter humano de sua expressão. Era efetivamente este o motivo essencial do meu espanto: na íris daquele animais brilhava a centelha espiritual que eu em vão buscara nos homens de Soror."

O livro é dividido em três partes e narrado em primeira pessoa. Ulysse conta toda sua trajetória, desde a captura até quando descobrem que ele raciocina como um macaco, já que nesse planeta, os macacos detém o espírito e todo o conhecimento. Não se sabe o motivo dos humanos serem seres irracionais e os macacos - divididos em três classes [Chimpanzé, gorila e orangotango] -  serem a raça superior aos demais animais do planeta, e é isso o que Ulysse e o noivo de Zira pretendem descobrir. 


O livro tem apenas 206 páginas e pode ser lido sem problemas por leitores não tão bem ambientados em cenários de ficção científica pois não possui termos complicados na linguagem. A história tem um quê de distopia, pois se trata de um planeta onde os humanos são seres subjugados, e tomados como cobaias em experimentos científicos. O ser racional é descrito como inferior, e por vários momentos eu enxergava nos racionais o ser humano, quando na verdade se tratavam de macacos. Interessante e ao mesmo tempo desconfortável 'trocar de lugar' com os animais, pois em toda a narrativa, Ulysse tinha que provar que era um ser pensante e não apenas um animal condicionado. O autor fez um trabalho brilhante ao retratar a humanidade em estado primitivo e inferiorizada pelo seu parente mais próximo, o macaco...

Outro fator que achei interessante é que um dos personagens que é encontrado posteriormente está em estado de pura selvageria, já não reconhece seu amigo jornalista e age como se tivesse regredido ao estágio de animal irracional; mesmo com todas as tentativas de Ulysse de trazê-lo à sua verdadeira natureza, nada surte efeito... Em contrapartida, a humana selvagem que falei no início do texto vai se humanizando com o passar do tempo, por causa do contato [íntimo até] com Ulysse. 

"Eis a prova de que é possível perder o espírito, assim como adquiri-lo."

O desfecho parece caminhar para um final feliz, mas pega o leitor de desprevenido... Mas não vou falar sobre isso, prefiro manter o elemento surpresa da narrativa... Em suma, O planeta dos macacos é certamente uma obra admirável, que aponta várias questões éticas e sobre a evolução/civilização do Homem, bem como sua relação com os animais. É mais que estudar os seres irracionais, é colocar-se como um. E admito que a simples ideia beira o desconforto...

Até a próxima postagem...

P.s: Minha segunda leitura para a maratona é 2001: uma odisseia no espaço. Aguardem que logo haverá resenha aqui... 

14 comentários:

  1. Só uma pergunta:o final do livro assemelha-se ao final do primeiro filme(a versão origina,eu quero dizer)?

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    1. olha, o enredo é bem diferente, salvo algumas coisas - do livro... o final é completamente diferente...
      Neste link tem o filme online dublado, em boa qualidade...
      http://efilmesnarede.com/o-planeta-dos-macacos-1968/

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  2. Hahaha, A lista da tua maratona não podia ser outra, né Valzinha? Menina, é gostoso quando a gente assiste um filme e tem flashes do filme, né? Ruim é quando a gente ainda lembra o filme todo. Pra variar, adorei a tua resenha! Sempre maravilhosa. <3

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  3. Olá
    acho que é um sonho eu ler esse livro, não consegui pois o livro sempre esta muito caro, rsrs, mas eu adorie a nova arrumada que a Aleph fez em seu livro, a capa ficou maravilhosa,
    Bjks
    Passa Lá no meu Blog - http://ospapa-livros.blogspot.com.br/

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  4. Oiee!
    tenho um pouco de trauma desse livro!! Meu pai era fã da série Planeta dos Macacos e obrigava a gente a ler e ver os filmes (Gostando ou não) várias vezes e até hoje não posso nem ouvir falar de Planeta dos Macacos que me dá um certo desespero. Mas, que bom que você gostou, é uma obra bem escrita (apesar de eu ter desespero dela hahaha).
    Beijos

    LuMartinho | Face

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  5. Olá!
    Estou bem ansiosa para edição da Aleph, pois adoro os filmes, assisti a todos hahaha foi um marco na ficção científica cinematográfica. Adorei sua resenha.

    Beijos
    http://www.breakingfree.blog.br/

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  6. Valéria, que bom que você gostou da sua primeira leitura da maratona.
    Que venha a segunda!
    Bom, eu não tenho nenhuma curiosidade no livro porque não gosto de ficção cientifica. E também nunca fui com a cara dos filmes.
    Espero que você continue aproveitando suas leituras da maratona.

    Lisossomos

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  7. Oi, tudo bem?
    Eu já assisti a alguns dos filmes, mas também não me lembro muito bem deles!
    Não sabia que tinha um livro e fiquei bem interessada agora que sei, principalmente pelo que você comentou sobre o final que me deixou muito curiosa.

    Beijo :*
    www.livrosesonhos.com

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  8. Oi Val! Menina meu marido adora o filme, ao contrário de mim que nunca consegui passar da apresentação do filme. Não é um estilo que me chame atenção, não me prende. Essa leitura tem muito sua cara, pelo o que vejo aqui no blog. Apesar de achar sua resenha super massa, é um livro que passo a vez. bju
    Amoras Com Pimenta ❤

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  9. Não é muito meu tipo de livro (não sou fã dos filmes! Hahah) mas gostei da sua resenha, parabéns pelo blog! Bjss

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  10. Li algumas coias sobre esse livro, mas eu confesso que não é o tipo de enredo que normalmente combina comigo. Prefiro optar por uma coisa mais leve. Ainda assim, é um livro que eu tenho curiosidade.

    http://laoliphant.com.br/

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  11. Eu já acho os filmes interessantes, imagina ler a obra que inspirou a história.
    o fato do escritor trazer esse lance de quem ou qual raça é superior, coisas do tipo...me deixa curiosa sabe.
    sempre quis ler esse livro, mas nunca tive a oportunidade e nem sei se está marcado na minha lista do skoob.
    mas se não estiver vai estar agora xp
    adorei sua resenha ^^
    Seguindo o Coelho Branco

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  12. Oie
    Tudo bom?
    Nossa eu só vi o filme tem muitos anos, e bota muitos aí porque era criança.
    Mas sua resenha me instigou a ler o livro e como geralmente o livro é melhor do que o filme darei oportunidade a ele.
    Me apaixonei por sua resenha.
    Beijos

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  13. Olá, eu não conhecia o livro ainda, mas confesso que eu não sei se eu leria ele, não faz meu tipo de leitura. Mas quem sabe dou uma chance ainda, logo que tiver um tempo sobrando vou ver :D

    Beijos

    http://www.oteoremadaleitura.com/

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