Quote - Os homens ocos / T.S. Eliot


"Nós somos os homens ocos,





nós somos os homens empalhados
apoiados uns aos outros,
a cabeça cheia de palha. Ai de nós!
Nossas vozes rouquenhas, quando sussurramos juntos,
são suaves e não têm sentido, como o vento na relva seca
ou os pés dos ratos que passam sobre vidro quebrado na nossa adega vazia.
Feio sem forma, sombra sem cor, força paralisada, gesto sem movimento;
os que já cruzaram com o olhar para frente,
o outro reino da morte recordam-se de nós - se é que assim seja –
não como almas perdidas, exaltadas,
mas simplesmente como homens ocos, homens empalhados.
Olhos, não ouso fitá-los nos sonhos.
No reino do sonho da morte
estes não aparecem;
os olhos são a luz solar
numa coluna partida.
Ali está uma árvore que balouça
e há vozes na canção do vento,
mais distantes e mais solenes
que uma estrela que se apaga.
Que eu não mais me aproxime
do reino do sonho da morte.
Que use disfarces,
pêlo de rato, pele de rato, sarrafos cruzados
num campo,
fazendo o que o vento faz
e não mais.
Não aquele encontro final
na região crepuscular.


Esta é a terra morta,
esta é a terra do cacto.
Aqui as imagens de pedra
são erguidas, aqui elas recebem a súplica da mão de um morto
sob a cintilação de uma estrela que se apaga.
É assim
no outro reino da morte.
Despertar a sós
no instante em que estamos
tremendo de ternura,
lábios que beijariam
até a laje partida.
Os olhos não estão aqui,
não há olhos aqui
neste vale de estrelas moribundas, neste vale oco,
esta garganta partida dos nossos reinos perdidos.
Neste último reduto de encontros nós nos agrupamos e evitamos falar.
Reunidos nessa praia de rio cheio
sem vista, a não ser
que os olhos desapareçam
como a estrela perpétua,
rosa multifoliada,
a única esperança
do reino do crepúsculo da morte dos homens ocos.

Aqui vamos andando à roda da pêra silvestre,
pêra silvestre, pêra silvestre,
aqui vamos andando à roda da pêra silvestre,
Às cinco horas da manhã
entre a idéia
e a realidade,
entre o gesto
e o ato
desce a sombra,
pois o reino é teu.
Entre a concepção e a criação,
entre a emoção
e a resposta,
desce a sombra.
A vida é muito longa.
Entre o desejo
e o espasmo,
entre a força
e a existência,
desce a sombra.
Pois o reino é teu,
pois tua é a vida,
pois tua é...
É assim que acaba o mundo.
É assim que acaba o mundo.
É assim que acaba o mundo.
Não com um estrondo,
mas com um gemido."


15 comentários:

  1. Triste estes versos, sombrios, desesperançosos. Não conhecia ao livro, mas o texto escolhido chamou minha atenção.
    Bjs, Rose

    ResponderExcluir
  2. Caramba, que pesado... não conhecia esse livro. Que versos tristes! :(

    ResponderExcluir
  3. Oie!
    Caramba, bem pesado. Versos que nos fazem refletir e nos deixam tristes, de certa forma melancólica. Parabéns pelo post!

    ResponderExcluir
  4. Versos muito tristes que me levaram a refletir sobre a vida e sobre a morte. Lembrei dos causos contados pelo meu pai sobre fim do mundo.
    Bjs!

    ResponderExcluir
  5. Oii
    Meu Deus, que versos intensos. Ainda não conhecia esse livro e não sei se leria. Mas adorei o post.

    ResponderExcluir
  6. Olá!
    Eu estou em choque com esse post. As últimas linhas tocaram fundo no meu coração. Eu senti dor ao ler, sabe? Eu senti dor, porque, muitas vezes, os momentos mais doloroso não são os de explosão, são os pequenos.
    Beijos

    ResponderExcluir
  7. Nossa, que intenso. Eu não conhecia os poemas de T.S. Eliot e gostei muito do que você nos trouxe, obrigada por essa postagem.

    ResponderExcluir
  8. Oiiii

    Versos meio góticos, meio sombrios. Eu gosto disso, apesar do sentimento de desesperança que sempre passa nos convida a refletir.

    Beijos

    www.derepentenoultimolivro.com

    ResponderExcluir
  9. Olá, tudo bem Maria?
    Achei tocante os versos, são um pouco tristes, mas ao mesmo tempo intensos.
    Bjs

    ResponderExcluir
  10. Olá!
    Não conhecia esses versos, mas além de tristeza e pesar, também traz um que de reflexão. Sentimentos controversos são bem assim, falam no muito e no pouco. No vazio e no cheio. Gostei de poder conhecer através do seu blog.
    Beijos!

    Camila de Moraes

    ResponderExcluir
  11. Versos bem intensos e fortes. Fico imaginando o sentimento do autor ao escrever. Mas dá pra sentir o desespero em suas palavras.
    Bjs
    Lucy - Por essas páginas

    ResponderExcluir
  12. Pois é acredito que deva ser assim mesmo o final de uma vida "mau" vivida com um gemido, tenho esperança que possamos viver outras que termina um outra conotação do gemido
    Amei! Bjs

    ResponderExcluir
  13. Olá, tudo bem? Nossa denso eles hein! Não conhecia o livro! Apesar de não ser algo que leia muito darei uma pesquisada nele. Belas escolhas!
    Beijos,
    diariasleituras.blogspot.com.br

    ResponderExcluir
  14. Oi!
    Não conhecia o livro ainda, mas achei os versos intensos e tristes na mesma proporção.
    Beijos

    ResponderExcluir
  15. me lembrou um pouco a escrita de edgar allan poe, versos bem intensos e as vezes sombrios, só o autor mesmo pra saber o que ele sentia enquanto escrevia, cabe a nós leitores usar a imaginação e navegar em cada linha

    ResponderExcluir

De Bukowski a Dostoievski. Ana Cristina César a Lilian Farias. Deleite-se com a poesia de Florbela Espanca e o erotismo de Anaïs Nin...
Aforismos, devaneios, quotes dispersos e impressões literárias...um baú de antiguidades e pós-modernismo. O obscuro, complexo, distópico, inverso... O horror, o amor, a loucura e o veneno de uma alma em busca de liberdade...

Seja bem-indo-e-vindo[a]!

Witches Hat
Tecnologia do Blogger.