Factótum, de Charles Bukowski



Quando se fala em uma escrita cheia de [des]venturas em um ambiente urbano claustrofóbico, problemático e desiludido, suavizado por um gole de bebida, um par de coxas quentes ou uma mistura de ambos, sempre penso no bom e velho Bukowski...

No seu segundo romance, Factótum, o autor dá vida novamente a Henry Chinaski, seu alter ego anti-herói. Vida esta regada a situações escrotas, desesperançosas mas que trazem uma pitada de crítica sarcástica ao sonho de perfeição americano. Henry vive situações tragicômicas ao longo dos locais onde perambulou cruzando os Estados Unidos, encontrando com uma mulher aqui, outra ali, se apegando mais a umas que a outras, uma boa garrafa de vinho, cerveja ou Whisky e empregos 'de quinta' categoria, ou até empregos honrados mas que ninguém mais queria...

Se depara com a decadência de corpos abatidos pelo cotidiano sofrido e marginal nos bares que frequentava; corpos que mais pareciam robôs vagando sem rumo certo e sem encontrar um sentido  a preencher o vazio de suas existências. O próprio Henry se sentia assim, mas aplacava seu amargor num copo de bebida. Enfrentou as filas das agências de emprego, pernoitou em hotéis e pensões vagabundas, comprando sanduíches azedos ou apostando poucos dólares em corridas de cavalo. Cruzou o país em ônibus lotados, em que mal se podia parar para dar uma cagada. 

Chinaski é alcoólatra, a maioria dos empregos que consegue são perdidos pelo vício em bebida. Ele sempre sai do setor para o bar mais próximo do serviço. Foi considerado inapto para o serviço militar e tinha um jeito bem rude com as mulheres; creio que por essa característica elas grudavam ainda mais nele... Mas a grande paixão dele é a escrita. Periodicamente ele envia seus contos à revistas conhecidas e eventualmente seus escritos são aceitos, lhe proporcionando 'um extra'. 

Factótum significa uma pessoa indispensável, ou um indivíduo que se julga capaz de resolver tudo. Talvez por isso o termo dê nome ao livro, pois o nosso anti-herói faz de tudo um pouco, de serviço de limpeza em fábricas à Homem-coco em uma confeitaria... 

A narrativa de Charles Bukowski é instigante, feroz, impetuosa. Com um olhar mordaz sobre a sociedade, faz aparecer a sujeira por baixo do tapete que o 'american way of life' faz questão de esconder. Não há romantismo e glamour nas ruas sujas de Los Angeles, Miami ou Nova York. Há prostitutas que cobram cinco dólares por cinco minutos de transa em banheiros de bar, mendigos tentando enganar a previdência para lavar pratos numa firma e ganhar algum trocado no fim do expediente, mulheres bêbadas e grisalhas que arrastam o protagonista para suas camas, desnudando seus corpos flácidos e carentes de amor... 

Mas há também gozo, encontros memoráveis com estranhos e lições - por vezes estranhas - que Chinaski agrega de alguma forma à sua vida... 

"Nada mais nos restava senão beber vinho e fazer amor."

10 comentários:

  1. Oiii, eu nunca li Bukowski por enquanto, mas posso dizer que tenho um amorzinho por ele, gosto de suas obras e de seus textos quem sabe eu leria.
    Beijinhos

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  2. Oie,

    Eu não conhecia o autor, pra falar a verdade a história me deixou um pouco curiosa, mas não faz muito o meu gênero e nem fiquei com aquele ar de preciso ler esse livro agora, mas se algum dia eu tiver a oportunidade de ler esse livro eu leria sim.

    Mayla

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  3. Valéria, eu nunca li nada do Bukowski, mas tenho muita curiosidade porque as histórias são muito interessantes.
    Acho que foi só falta de oportunidade mesmo, mas espero que mude logo.

    Lisossomos

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  4. Gente, eu sou apaixonada por esse cara. Ele fala com o meu coração. Infelizmente só consegui ler Cartas na Rua dele, se não leu, recomendo muito!

    http://laoliphant.com.br/

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  5. Quero muito conhecer o trabalho do Bukowski, mas acho que começarei por Misto Quente. Ainda assim, vou anotar Factoum aqui para uma futura leitura. Arrasou na resenha!

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  6. Gente!!
    Não conhecia nenhuma obra desse autor, mas confesso que fiquei bastante interessada, pois gostei muito da premissa dessa história!
    http://www.lindaestante.com.br/

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  7. Oi, tudo bem?
    Não é o tipo de livro que costumo ler, mas que sabe eu acabe dando uma chance para eles.
    Bjs♥♥♥
    http://leiturasdamary.blogspot.com.br/

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  8. Olá,
    Nossa me parece ser um livro um tanto quanto "pesado".
    Tanto no sentido da realidade, quanto em revelar todo o podre escondido.

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  9. Oi, tudo bem?
    Eu nunca li nada desse autor, mas confesso que as obras dele me chamam a atenção, pois todas parecem tratar de temas bem "pesados" e realistas, por isso fiquei bem animada com sua resenha e espero ter oportunidade de conhecer a escrita do autor por esse livro, pois de todos foi o que eu mais fiquei curiosa em conhecer.

    Beijos :*

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  10. Oii!

    Nunca li nada desse autor, mas fiquei bem curiosa para conhecer essa obra dele ^^
    Amei a sua resenha e muiitoo obrigada pela dica :)
    Espero ler em breve!

    Beijos, Amanda
    www.vicio-de-leitura.com

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De Bukowski a Dostoievski. Ana Cristina César a Lilian Farias. Deleite-se com a poesia de Florbela Espanca e o erotismo de Anaïs Nin...
Aforismos, devaneios, quotes dispersos e impressões literárias...um baú de antiguidades e pós-modernismo. O obscuro, complexo, distópico, inverso... O horror, o amor, a loucura e o veneno de uma alma em busca de liberdade...

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